Nada
Nada é mais louco do que como as coisas acontecem dentro de nós. Como um programa de TV pode nos trazer nostalgia, como uma arte pode nos trazer sossego, como uma pessoa pode nos trazer conforto, como uma música pode nos trazer paixão...
É louco como as coisas acontecem dentro de nós: como um programa de TV pode nos trazer raiva, como uma arte pode nos trazer insegurança, como uma pessoa pode nos trazer desconforto, como uma música pode nos trazer ansiedade... E o mais louco ainda é como nossa própria mente pode trazer tudo isso e muito mais – às vezes um por um, às vezes em etapas, às vezes um misto de nostalgia e ansiedade, às vezes paixão e desespero, às vezes conforto e angústia, e às vezes tudo isso junto.
O que, para mim, é o pior: aquele momento em que você senta e começa a pensar demais. Hoje, por exemplo, eu comecei a pensar em como a minha vida foi de 8 a 80 tão rápido. Em um dia, eu estou na sala com meus amigos, rindo e zoando com meus professores preferidos, fazendo piadas e fingindo me importar com a aula. Nostalgia.
Mas aí... eu percebo que não é mais assim. Afinal, avançando um pouco no tempo, não estou mais na mesma sala, não estou mais rodeada de amigos, não tenho mais meus professores preferidos, e a nostalgia já não é mais o que eu sinto...
Tristeza..
Ela começa a dominar. E de novo, eu volto a pensar. O tempo avança mais um pouco e eu me vejo... Onde eu estou? Estou em uma sala diferente, em horários diferentes, sem amigos, sem professores, sem as pessoas que costumavam ser meu porto seguro. E agora? Para quem eu vou correr quando sentir o chão caindo sob os meus pés? Quem eu vou abraçar quando me sentir sozinha? Quem vai segurar a minha mão para que eu não me belisque quando a ansiedade atacar?
Ninguém.
Não há ninguém.
E então... as memórias voltam. Mas agora não é nostalgia. É angústia. As memórias de uma pequena eu, nos primeiros anos da escola, segurando meu Lego no dia do brinquedo, olhando para a janela. Sozinha. Sempre sozinha. Mas... alguém se aproxima de mim.. Ou melhor, do meu brinquedo.
A imagem da pequena eu olhando para a janela, querendo sair daquele lugar, mas não há ninguém que possa tirá-la dali.
Nunca tem ninguém.
Ninguém vai te salvar.
Sempre fui eu. Eu e eu.
Talvez por isso, mesmo em situações difíceis, eu sempre sorrio e digo: "Tá de boas, eu dou meu jeito." Afinal, eu sempre dei. Sempre escondi, mascarei, fingi normalidade.
Ninguém gosta de pessoas machucadas.
Então, eu me curei sozinha. Estanquei minhas feridas, limpei os olhos e segui com um sorriso no rosto e um pensamento na cabeça:
"Eu vou dar um jeito."
...Será?

Que bonito e sincero o que acabei de ler. Ainda bem que vim aqui para ler "Nada". É verdade, tão verdade. Rejeitamos a vulnerabilidade e fazemos disso uma forma de vida. Rejeitamos primeiro a nossa e depois acabamos por rejeitar a dos outros. Uma espécie de "Se eu sobrevivi sozinho tu também tens que conseguir". Ficamos egoístas. Mas é tempo de abraçar a vulnerabilidade. A nossa e a do outro. Temos que deixar que as nossas ações brotem do amor, o amor por nós e pelos outros. Obrigado pelo texto. Eu não sabia, mas estava a precisar de ler isto. Miguel.
E ainda somos condicionados a não falar sobre as derrotas.
Passa um tempo nos envergonhamos de estarmos tristes, ou qualquer coisa que acabe com a vibe da galera.